03 março 2007

Bibliotecas públicas: promoção do leitor ou auto-promoção?


Pergunto-me se estarão as bibliotecas a cumprir a sua missão de levar o conhecimento, a leitura e a cultura para junto dos seus leitores... Muitas são tão pobres que não têm dinheiro para manter profissionais devidamente habilitados à frente dos seus serviços ou para adquirir documentação devidamente actualizada com regularidade; outras são tão "ricas" que apenas servem para a auto-promoção daqueles que têm a seu cargo a gestão destes espaços. A qualidade dos serviços prestados é aferida pelo número de actividades desenvolvidas, mesmo que estas não tenham atrás de si um trabalho de suporte que as ligue à comunidade que é suposto servirem. A biblioteca do dia-a-dia é totalmente esquecida! Os leitores que quotidianamente frequentam as bibliotecas estão completamente afastados das actividades que as bibliotecas promovem, não se identificando minimamente com o show-off que as rodeiam e que em nada servem aos seus propósitos. As instalações muitas das vezes são deploráveis, os documentos inexistentes ou desactualizados e a recuperação da informação mesmo quando existe revela-se um verdareiro desafio, tudo porque não há um verdadeiro e imprescindível investimento no tratamento técnico dos documentos, sobretudo ao nível da indexação. Um dos objectivos das bibliotecas não é o de facultar o acesso à informação e acompanhar os indivíduos ao longo da sua formação? A informação para poder ser recuperada não terá de ser previamente tratada, gerida, organizada? Tentem encontrar uma agulha num palheiro: é isso que por vezes se tenta fazer nas bibliotecas quando o público pretende encontrar informação sobre um determinado assunto que pura e simplesmente é impossível recuperar porque o seu registo e indexação (análise dos assuntos contidos nas obras) não foi previamente feito. E tudo isto porque vivemos no país do faz-de-conta. Faz-de-conta que temos bibliotecas que funcionam para a promoção dos seus leitores, em vez de funcionarem para a auto-promoção de responsáveis e políticos. Faz-de-conta que queremos disponibilizar ao público informação de qualidade que possa contribuir para o seu crescimento e amadurecimento enquanto cidadãos esclarecidos e informados. Faz-de-conta que os dinheiros são devidamente utilizados e colocados ao serviço daqueles que procuram as bibliotecas no seu dia-a-dia, e não apenas em projectos e festarolas para meia dúzia de privilegiados. Até porque sejamos honestos: muitas das nossas bibliotecas têm à sua frente pessoas que de bibliotecários nada têm. Há quanto tempo é que não desenvolvem trabalho de bibliotecário? Há quanto tempo é que não lidam com o público que é suposto servirem? Talvez fosse bom que de vez em quando deixassem o trabalho burocrático de parte e mergulhassem nos verdadeiros problemas das bibliotecas e voltassem a ser simplesmente... bibliotecários!

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